sábado, 12 de maio de 2012

O Método Mistagógico

    Há muita gente que vai a missa, assiste a batizados, casamentos e velórios... mas aprendeu a passar da materialidade dos ritos para o seu sentido simbólico, seu "mistério", para a realidade que se esconde nos ritos. Quando vemos uma pessoa sendo batizada, vemos que está sendo mergulhada na água por três vezes (ou por três vezes se derrama água sobre sua cabeça). O que esse gesto significa? Qual é o "mistério" que esse gesto expressa e realiza? Ou seja, o que acontece, em profundidade, com a pessoa que é batizada?
    São Paulo diz: pelo batismo somos sepultados com Cristo em sua morte, para ressurgir com ele para uma vida nova. Aparentemente para quem "olha de fora" ( para quem está "por fora"), a pessoa está simplesmente "tomando um banho"; na realidade do rito realizado na fé da igreja, essa pessoa está sendo "mergulhada" no mistério da páscoa de Jesus, para sempre, para viver todos os momentos e acontecimentos de sua vida como uma passagem da morte para a vida, como uma páscoa permanente, unida a páscoa de Jesus, graças a ação transformadora do Espírito Santo de Deus.
    Existe um método para nos ajudar a passar do "sinal sensível" ao "mistério do rito". É o método mistagógico, usado pelos "Pais da igreja" (também chamados de "Santos Padres") em suas catequeses mistagógicas. Nas homilias durante a semana depois da páscoa, aprofundavam o sentido daquilo que tinha acontecido com a pessoas iniciadas durante a vigília pascal (pelos sacramentos do batismo/crisma/eucaristia) para que, assim, mergulhassem mais profundamente no mistério celebrado.
    Podemos apontar os elementos principais neste caminho mistagógico;
1. Recorda-se a celebração litúrgica vivida: a assembléia reunida, a palavra ouvida, os gestos rituais, as orações, os cantos...; por exemplo: "Vocês foram conduzidos pela mão até a piscina sagrada do divino batismo(...), cada um de vocês foi perguntado se acreditava no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Professaram a fé da salvação e por três vezes foram imersos na água e outras tantas dela emergiram...".
2. A salvação celebrada no rito é explicitada através de textos bíblicos e aprofundada teologicamente; por exemplo, no caso do batismo, poderíamos partir de Rm 3, 6-11, já citado acima, e aprofundar o mistério pascal de Cristo, ao qual somos associados por esse sacramento.
3. Retorna-se ao rito, mostrando como por ele se realiza, em nós, toda essa riqueza bíblica, teológica, espiritual; por exemplo: "...por três vezes vocês foram imersos na água e outras tantas dela emergiram, significando desse modo, em símbolo, os três dias da sepultura de Cristo (...) Num mesmo instante vocês morreram e nasceram e aquela água de salvação tornou-se para vocês ao mesmo tempo sepulcro e mãe [útero materno]".
    Não se trata de descrever ou analisar a ação ritual, e muito menos o mistério celebrado, como se fosse um objeto fora de nós! É preciso levar a intuir a profundidade daquilo que Deus realizou em nós, em mim pessoalmente, e os laços que nos unem a ele e nele. É preciso levar a descobrir , agradecidos/as, que participamos da história de todo um povo, de toda a humanidade, e que o próprio Deus está inserido nessa história, principalmente pela vida, morte e ressurreição de Jesus, o Cristo. A celebração expressa aquilo que somos chamados a viver a todo momento: nossa ligação vital com Jesus Cristo no Espírito Santo; nosso caminho comunitário e pascal, nossa missão na sociedade.

Texto de Ione Buyst
Revista de liturgia, setembro/outubro, 2007, p19.

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